Queridos trabalhadores,
Neste 1° de maio, a Igreja comemora a Festa de São José Operário, e nós da Pastoral do Trabalhador da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, celebrando os 50 anos da criação desta pastoral em nossa arquidiocese, nos juntamos aos movimentos de trabalhadores para reafirmar a dignidade e a grandeza do trabalho humano.
Comemoramos 137 anos dos acontecimentos de Chicago, quando houve greve pela redução da jornada de trabalho diário. Deles se originou o Dia Mundial do Trabalho.
Os trabalhadores têm lutado muito e continuam lutando para que a dignidade da pessoa, criada por Deus, seja respeitada.
São 50 anos em que a Pastoral do Trabalhador, em comunhão com nosso bispo e toda a comunidade arquidiocesana do Rio de Janeiro, busca ser presença e serviço da Igreja no mundo do trabalho. Queremos neste 1° de maio reafirmar nosso compromisso com os trabalhadores e trabalhadoras mais sofrido da nossa cidade. Na luta por uma sociedade mais justa e fraterna continuaremos, como nestes 50 anos, a denunciar os problemas que afetam toda a nossa sociedade e, de modo particular, os trabalhadores: “os desequilíbrios sociais, a distribuição desigual e injusta dos meios econômicos geradora de conflitos na cidade e no campo, de desemprego e fome; a necessidade de ampla difusão dos meios básicos de saúde, educação e de cultura; os problemas da infância desprotegida”.
Em nosso país, os trabalhadores do campo e da cidade continuam a ser, além de esquecidos, vítimas das mais variadas formas de violência, incluindo a morte. O desrespeito à dignidade da pessoa humana continua em todos os níveis. A ganância, a corrupção e a compra da consciência das pessoas fazem com que continue se perpetuando uma estrutura injusta e desumana. Já o Papa João Paulo II nos alertava para realidade econômica que subordina a pessoa humana e condiciona o desenvolvimento dos povos às regras cegas do mercado, que impõem pesado fardo aos povos menos favorecidos, e hoje ainda se faz presente novas formas de trabalho similar à escravidão.
As famílias sofrem as consequências de tudo isto e continuam, agora em número cada vez mais elevado, a viver sob viadutos e praças das cidades. E a juventude continua perdida à procura de um caminho, esmagada pela pressão da propaganda, da moda e dos formadores de opinião pública e de um mundo de facilidades e sem grandes perspectivas, apesar dos muitos sonhos.
É necessário que haja um projeto global consistente que altere as estruturas geradoras de miséria, a fome, o desemprego e a péssima distribuição de renda. E o trabalho não faltaria, se fossem encontrados caminhos para financiá-lo, redistribuindo a riqueza social. Mas, para isso é preciso que se valorize o bem comum e se coloque o ser humano e sua dignidade acima do dinheiro, da riqueza, pois esta só tem valor quando gera bem-estar para todos.
É preciso que a partir da força da fraternidade e da solidariedade, que exige a acolhida do outro, criemos uma civilização marcada pelo amor, serviço a favor da vida, da justiça e da paz. E isto não será possível, se não realizarmos em nossas vidas de modo concreto o projeto de vida que o Cristo viveu e nos ensinou. Pelo mundo todo se levantam as vozes de que é necessário reconhecer a validade da solidariedade e da justiça como regras decisivas para uma política econômica e social durável. Pois, solidariedade (misericórdia) e justiça constituem o coração de toda a ética bíblica e cristã.
Diante deste quadro, a Igreja nos lembra que devemos abandonar nossa postura muitas vezes omissa e participar ativamente do processo de transformação dentro dos movimentos populares, dos sindicatos, das associações de moradores, dos partidos políticos e diversos outros grupos sociais que procuram encontrar saídas para toda esta crise em que vive a nossa civilização. Esta vergonhosa situação é responsabilidade do governo, da sociedade e de cada um de nós. Não será resolvida com simples projetos assistenciais, mas com o trabalho de todos, criando em cada pessoa a consciência de se implantarem políticas sociais concretas de emprego, educação, saúde e moradia que assegurem ao trabalhador as garantias sociais, aos desempregados, emprego imediato, e a todos, uma distribuição justa de renda. Assumir que todos somos de fato irmãos é a condição para viver a experiência do diálogo, da fraternidade e da valorização da vida mesmo que para muitos pouco importe a vida e a dignidade das pessoas. (cf. Gaudium et Spes, 74).
As injustiças sociais somente serão corrigidas se cada ser humano puser como critério de vida o mandamento que Jesus Cristo nos deixou. Como disse o Papa João Paulo II no último Congresso da Família: “O Evangelho ilumina a dignidade do homem e redime tudo o que pode empobrecer a visão de homem e da sua verdade”.
Os muitos conflitos do passado e do presente e as mazelas, como a pandemia da Covi-19, parecem que não levaram a Humanidade a aprender que nem a ganância econômica e nem a ambição por poder fazem o ser humano melhor.
É em Cristo onde o homem redescobre a grandeza da sua vocação a ser imagem e semelhança de Deus; é n’Ele que encontramos a força para vencer toda e qualquer tentação que nos apresente um mundo de facilidades. É por isso que o aspecto religioso é parte integrante do ser humano. Por que faz-nos olhar para além a eternidade e, ao mesmo tempo, construir o mundo querido por Deus.
E que começa já aqui com a construção de uma sociedade mais fraterna, mais justa, na qual não haja grupos de excluídos, e sim um povo de irmãos. Na qual as pessoas encontrem apoio para crescer e desenvolver todas as suas potencialidades, todos os dons que Deus lhes deu.
Saudamos a todos os trabalhadores e trabalhadoras com um forte abraço fraternal no Cristo Ressuscitado, penhor de vida nova, e conclamamos a todos a viver a realidade do trabalho à luz do Evangelho.
Assinam esta carta as pastorais sociais de nossa Arquidiocese do Rio de Janeiro.